ao longo da avenida

"O tempo das suaves raparigas / é junto ao mar ao longo da avenida" - Ruy Belo

sexta-feira, dezembro 26

um feliz 2004 

ainda devo ir ver "mona lisa smile" e saborear um pouco do frio de dezembro. sentir talvez a luz da cidade nestes dias calmos. mas preciso de me calar um pouco.

desejo-vos apenas uma feliz entrada em 2004. sejam felizes. sempre.

10:24

para dizer ao som das doze badaladas 

"Tu estás aqui

Estás aqui comigo à sombra do sol
escrevo e oiço certos ruídos domésticos
e a luz chega-me humildemente pela janela
e dói-me um braço e sei que sou o pior aspecto do que sou
Estás aqui comigo e sou sumamente quotidiano
e tudo o que faço ou sinto como que me veste de um pijama
que uso para ser também isto este bicho
de hábitos manias segredos defeitos quase todos desfeitos
quando depois lá fora na vida profissional ou social só sou um nome e sabem
o que sei o
que faço ou então sou eu que julgo que o sabem
e sou amável selecciono cuidadosamente os gestos e escolho as palavras
e sei que afinal posso ser isso talvez porque aqui sentado dentro de casa sou
outra coisa
esta coisa que escreve e tem uma nódoa na camisa e só tem de exterior
a manifestação desta dor neste braço que afecta tudo o que faço
bem entendido o que faço com este braço
Estás aqui comigo e à volta são as paredes
e posso passar de sala para sala a pensar noutra coisa
e dizer aqui é a sala de estar aqui é o quarto aqui é a casa de banho
e no fundo escolher cada uma das divisões segundo o que tenho a fazer
Estás aqui comigo e sei que só sou este corpo castigado
passado nas pernas de sala em sala. Sou só estas salas estas paredes
esta profunda vergonha de o ser e não ser apenas a outra coisa
essa coisa que sou na estrada onde não estou à sombra do sol
Estás aqui e sinto-me absolutamente indefeso
diante dos dias. Que ninguém conheça este meu nome
este meu verdadeiro nome depois talvez encoberto noutro
nome embora no mesmo nome este nome
de terra de dor de paredes este nome doméstico
Afinal fui isto nada mais do que isto
as outras coisas que fiz fi-Ias para não ser isto ou dissimular isto
a que somente não chamo merda porque ao nascer me deram outro nome
que não merda
e em princípio o nome de cada coisa serve para distinguir uma coisa das
outras coisas
Estás aqui comigo e tenho pena acredita de ser só isto
pena até mesmo de dizer que sou só isto como se fosse também outra coisa
uma coisa para além disto que não isto
Estás aqui comigo deixa-te estar aqui comigo
é das tuas mãos que saem alguns destes ruídos domésticos
mas até nos teus gestos domésticos tu és mais que os teus gestos domésticos
tu és em cada gesto todos os teus gestos
e neste momento eu sei eu sinto ao certo o que significam certas palavras como
a palavra paz
Deixa-te estar aqui perdoa que o tempo te fique na face na forma de rugas
perdoa pagares tão alto preço por estar aqui
perdoa eu revelar que há muito pagas tão alto preço por estar aqui
prossegue nos gestos não pares procura permanecer sempre presente
deixa docemente desvanecerem-se um por um os dias
e eu saber que aqui estás de maneira a poder dizer
sou isto é certo mas sei que tu estás aqui"

ruy belo

10:22

a vida não continua 

a cidade permanece adormecida. não façam barulho. nunca mais a acordem.

volta para mim. de mansinho. ninguém te vê.

10:14

consoada 

cambaleamos de sono, premeditando a ressaca de não haver motivo para comprar. um vazio sucede à febre de prendas. só mesmo a tua voz oculta, transfigurada em caracteres, insufla de vida a dolência de uma noite interminável.

10:10

short message service 

amo-te

10:08

terça-feira, dezembro 23

um feliz natal 

para todos os transeuntes da avenida. são vocês que a edificam. com os vossos passos apressados, risos, gestos, silêncios.

obrigado. sejam felizes.

18:49

as paredes de um silêncio interrompido 



ontem, a coimbra capital da cultura foi simbolicamente encerrada no convento de s. francisco com a leitura de um excerto de a margem da alegria de ruy belo. as palavras ecoaram nas paredes brancas soprando vida no abandono e na ruína que povoam aquele espaço. foi comovente ouvir luís miguel cintra falar da desmesura e da generosidade do poema. da sua transfiguração para o palco da cornucópia em 1996, como apenas uma forma de agir perante uma sociedade apodrecida. havia muitas cadeiras vazias. o espectáculo era gratuito. (porquê?)

estava muito frio para além do calor das palavras. do amor imaginado de pedro e inês, reflectido em água pura feita de versos. também quis ser pedro. uma pedra onde ecoassem para sempre aquelas palavras.

18:35

segunda-feira, dezembro 22

a irmandade desfeita 



o senhor dos anéis é uma narrativa poderosa, convertida de forma surpreendente num grandioso filme. peter jackson aponta o caminho e os espectadores mergulham na terra média. numa transfigurada idade média mítica onde o bem e o mal se defrontam até ao limite das forças. deus não existe nomeado. é apenas uma moralidade intrínseca que conduz os heróis. mas o shire faz lembrar o paraíso perdido. é a amizade, a confiança e a coragem que sobressaem nas relações.

há um destino de paz imaginado por tolkien. uma mensagem de esperança.

12:48

margem da alegria 

afinal, as portas abrir-se-ão a todos os interessados. devido a pressões.

a cultura ainda pode ser de todos.

12:46

sexta-feira, dezembro 19

o que é o natal? 

percorro ruas e centros comerciais apinhados de gente. sacos e embrulhos. barulho. discussões. indecisões.

afinal, o que significa o natal?

20:45

boa viagem 

tenho um amigo que parte domingo para longe. digo-lhe meio a brincar que provavelmente não volta. ele ri-se. e eu insisto.

a amizade é uma forma estranha de liberdade. como se abdicássemos de certas presenças para a realização dos seus sonhos.

20:37

uma reflexão sobre o natal 

há em cada despedida uma pequenina morte. uma leve proximidade do fim.

porque será que ao desejarmos feliz natal nos cumprimentamos como se nos despedíssemos?

onde está o fim?

20:30

quinta-feira, dezembro 18

simples 

as palavras do irmão roger na carta de taizé para 2004 são superiormente simples e claras. não há paz sem justiça. não há justiça sem amor. não há amor sem confiança.

seremos sempre discípulos a caminho de emaús.

00:46

esta noite, o que é? 

um respirar tranquilo, pautado pela doçura da voz de melo d na versão de one love dos massive attack. uma lufada de groove, dub e soul numa vida confusa. um esclarecimento pelo ritmo.

00:41

terça-feira, dezembro 16

a cultura dos convites 

a margem da alegria de ruy belo vai ser levada à cena no convento de s. francisco, em coimbra, no encerramento da capital da cultura. aqueles que, como eu, estavam dispostos a rumar até à cidade do mondego para assistir à dramatização de um dos mais belos poemas sobre o amor de pedro e inês depararam-se com a inexistência de bilhetes à venda. será só para convidados.

que estrondosa e cultural forma de encerrar o evento. com convite.

15:33

segunda-feira, dezembro 15

prendas de natal 

eu queria duas prendas blogosféricas para este natal. do francisco josé viegas, um livro chamado a noite, o que é?. do tiago, um álbum repleto de letras e notas musicais suculentas. para uma prazenteira consoada ao som das cantigas de tiago guillul.

nestes dias que antecedem o natal, deixo esta singela homenagem aos meus blogues preferidos.

23:22

saddam 

não fiquei triste nem feliz com a prisão de saddam. não esbocei reacção alguma. nenhuma mesmo.

não consigo chorar nem rir quando falamos de justiça. e para saddam só peço justiça.

23:19

domingo, dezembro 14

um exercício como qualquer outro 

talvez fosse importante dizer qualquer coisa. parar de me esconder de todos. entrar outra vez na sala. sentar-me junto à lareira.

adormecer.

23:57

quarta-feira, dezembro 10

acordar com o sol 

uma estrela da manhã é um encontro inesperado. uma mulher demasiado bela. a surpresa de um sorriso.

por onde andaste?

10:24

segunda-feira, dezembro 8

um pouco 

as responsabilidades que vamos assumindo pesam muito. mas são a única forma de nos querermos tornar um pouco melhor.

e é tão difícil dizer não a esse caminho ínvio das coisas fáceis. para vos fazer felizes.

20:23

sexta-feira, dezembro 5

fiesta 



the mars volta é, provavelmente, a melhor banda rock dos dias que correm. produzem um som pleno de energia mas sabiamente rendilhado de genialidade. por vezes, não sabemos bem o que estamos a ouvir: um concerto de jazz, uma festa dub, uma matinée hardcore.

quem assistiu ao concerto sabe do que estou a falar. cedric dança em cima do balcão, batendo palmas. a música não tem pátria nem definições. é apenas celebração.

09:54

quarta-feira, dezembro 3

se eu soubesse escrever as tuas palavras 


vermeer

23:40

dia de concerto 


amanhã à noite, the mars volta em lisboa. estarei lá.

23:29

num dos canais 

lembrar-me de ti é como não saber onde o barco nos leva. apesar de termos um mapa.

é perder-me por entre pontes que já nada ligam. sem deixarem de ser pontes.

que casa me tornei.

onde posso acolher?

22:47

o que é amsterdão? 

é o frio que se embrulha na tarde. uma criança sentada no guiador de uma bicicleta. uma solidão em forma de postal.

22:44

solto 

enquanto esperávamos que o atraso do avião não se alargasse ainda mais, os aviões passeavam descontraidamente nas pistas do aeroporto. parecia fácil viajar. correr o mundo. partilhei então um possível projecto de vida turística: conseguir ver todos os quadros de vermeer que estão espalhados pelo mundo. afinal, só consegui ainda ver 3 e devem faltar cerca de 27 espalhados pelos mais diversos países e museus...

e depois pensei, sem partilhar: e porque não procurar-te?

22:38

regresso 

voltei de amsterdão. das águas em forma de avenidas.

11:41