ao longo da avenida

"O tempo das suaves raparigas / é junto ao mar ao longo da avenida" - Ruy Belo

quinta-feira, novembro 27

encontro 


vermeer

tenho um encontro marcado com esta e outras obras. volto na terça.

22:08

a percorrer 

alguns poemas do ruy belo noutras avenidas: odeio este tempo detergente e elogio de maria teresa.

19:40

terça-feira, novembro 25

ouvindo a suite nº 3 em ré maior 

terá bach falado com deus?

10:13

domingo, novembro 23

não morras agora 

não gosto dos domingos.

sobretudo quando anoitece (a vida suspende a sua respiração) e apenas me resta esperar pelo renovado palpitar da cidade.

22:58

sexta-feira, novembro 21

onde ficámos naquele dia 

01:04

onde me levas? 



cheguei há pouco do cinema. já ouvi e li várias vezes que, nas artes, os temas essenciais resumem-se a uma mão cheia. o sabor da cereja, de abbas kiarostami, de que trata? da vida? da morte? da amizade?

a mim, kiarostami permitiu-me vislumbrar a beleza da aridez de uma paisagem. uma estrada percorrida em curvas que levavam ao local escolhido por badii para morrer. uma cidade entrevista ao longo de um dia. com palavras que nos fazem sorrir. com sorrisos. com simplicidade. como uma fruta que se saboreia ao entardecer. longe da morte.

não é simples olhar a vida?

00:36

quarta-feira, novembro 19

palavras nunca ditas 

hoje vivi (ou senti) um dos dias mais felizes da minha vida. de tarde, no autocarro, descobri que não há nada talvez mais bonito do que uma mulher a olhar para uma criança que brinca e sorri. uma ternura impossível de descrever, por entre um sol rasante vindo do rio.
à noite, depois de estar a ver na televisão uma entrevista a antónio lobo antunes, comentava a minha mãe: "não gosto da escrita dele. uma vez tentei ler um livro mas não se saía do mesmo lugar. dei-o depois a uma amiga." eu olhava para ela quando concluiu: "talvez seja porque a mãe não tem muita cultura"... a minha mãe será sempre para mim o maior dos exemplos. nunca conseguirei sentir uma humildade como a que ela me mostra todos os dias.

é por isso que tento sempre ser o melhor dos filhos. mas sou demasiado egoísta e ingrato. nunca consigo ser melhor.

21:42

uma árvore na minha vida 

"(...)
sozinho sinto-me nas mãos imensas de tudo
não passo talvez de um pouco de geada à mercê do primeiro sol
sou um simples segundo entre nada e nada
poisasse a primavera os pés neste ramo e então haveria
talvez uma flor desmedida à superfície da vida
a este muro de musgo do crepúsculo
quando tudo tem vozes e há olhos rasos
penso quem me dera quando eu vivia no país das lágrimas
e as lágrimas eram os rios desse país do passado
(...)"

ruy belo

00:24

segunda-feira, novembro 17

voxx 

a voxx vai acabar. todos os ouvintes sabiam que um dia isto ia acontecer. sem publicidade era impossível sobreviver. na avenida ouvia-se a voxx há vários anos. quantas descobertas musicais foram feitas a partir das suas emissões. quantas vezes fiquei com a cabeça a ser martelada por uma música da qual não sabia o nome... aprendi as divinas capacidades relaxantes do chill-out com a "casa, bateria e baixo" ou o "toma lá mix". descobri o mundo indie no programa da "amélinha" ou no "refogado e hortelã" (bright eyes, josh rouse, etc). falei da voxx a tanta gente que até a mim me chateou o quanto gostava desta rádio. mas agora acabou e consigo perceber perfeitamente o quão se pode ficar órfão de uma frequência, de uma forma de estar, como tantos o sentiram após o fim da xfm. ainda hoje estive a ouvi-la e não sei quando será o fim. espero não dar por nada e pensar apenas que é o meu rádio que está avariado.

ficámos sem dúvida mais cinzentos.

22:08

momento último 

talvez fosse fácil desaparecer. mudar de casa. mudar de número de telemóvel. apagar a conta de mail. não mais percorrer a avenida.

procurar-te.

10:24

sábado, novembro 15

conversa com a beleza 

a suavidade da beleza de elephant, de gus van sant, convida-nos a caminhar para a mais simples das tragédias. inconscientemente, acreditamos numa normalidade. deixamos que o tempo nos percorra. mas, de súbito, a vida apresenta-se no seu maior absurdo. os dois rapazes já entraram no liceu e não há para onde fugir. também nós não temos para onde fugir.
até que um pergunta para o outro: "então, correu-te bem?" não, não correu bem. vejo-o nos olhos de quem vos estava a ver.

perante este filme não podem haver espectadores indiferentes. é demasiado belo.

12:22

sexta-feira, novembro 14

oração 

"jesus, lembra-te de mim quando chegares ao teu reino."

lc 23:42

00:21

quarta-feira, novembro 12

o que é que estás a pensar? 


vermeer

23:55

talvez se descer ainda te veja 

00:26

terça-feira, novembro 11

saudade 

retiraram há muitos anos a placa com o nome da minha avenida. só hoje reparei. estava por cima de uma tasca onde eu, quando era pequeno, comia pão com manteiga e fiambre, nalguns dias que hoje não sei identificar. lembro-me de vir embrulhado num papel rijo e de cheirar demasiado bem para se poder resistir muito tempo ao gesto brusco e suculento de arrancar a fita-cola.

hoje já não como carne. a tasca foi demolida para dar lugar a qualquer coisa. já sei quem foi o doutor cujo nome estava gravado na placa. o tempo passou irremediavelmente.

23:04

olhar-te 

00:19

domingo, novembro 9

uma pergunta banal 

neste momento, basta-me a leve desconfiança de estar vivo para saber quem mora na avenida ou quem se limita a passear. olho a noite pela janela. passam algumas pessoas por entre os carros e a chuva. sinto o ar frio de novembro. sorrio.

onde estás?

23:28

quinta-feira, novembro 6

fim de tarde 

às vezes, deus senta-se comigo num dos bancos da avenida. olhamos em silêncio para os pássaros da tarde. uma luz que esvoaça nos meus olhos. depois diz-me duas ou três coisas sem importância e eu escuto-o.

acredito.

23:31

lisboa inesperada (inacabado) 

éramos jovens e eu podia amar-te para sempre

23:25

quarta-feira, novembro 5

como um sopro 



hoje, deus passeou na avenida. por entre o vento. primeiro contou-me um segredo. depois falou-me de uma aldeia.

23:57

terça-feira, novembro 4

hora nocturna (em ré menor) 

a gratidão pode ser a maior das falsidades. mas nunca deixa de ser um dever.

a moralidade não faz fronteira com a mentira.

22:22

segunda-feira, novembro 3

abandono 



somos todos de alguma forma uma cidade abandonada
uma casa que alguém deixou para trás

23:30

domingo, novembro 2

passeio 



a tranquilidade perpassa as avenidas.

como pode ser domingo na cidade?

18:07

serão de letras 

estive a visionar, até há pouco, o programa de bárbara guimarães na sic notícias. neste serão, os convidados eram josé saramago e josé luís peixoto. com atenção, escutei o que se disse. pensei. remoí. matutei. meditei. mas fiquei com pouco para dizer.

bárbara guimarães fez figura de pateta. saramago de sabichão, sempre a prometer polémicas, a intervir nas questões colocadas a peixoto, a ripostar as suas opiniões. com o seu piercing a reluzir, josé luís não conseguia disfarçar o nervosismo. preferia decerto estar num concerto de moonspell. longe dali. mais próximo da humildade.

00:53