ao longo da avenida

"O tempo das suaves raparigas / é junto ao mar ao longo da avenida" - Ruy Belo

quarta-feira, maio 12

do diferendo 

não, tiago, não concordo contigo. eu acredito no diálogo ecuménico. porque o vi na prática. incompleto, inacabado mas a funcionar. sem perfeição de qualquer espécie, como nós. mas a silenciar as desavenças dos que se dizem cristãos. estás convidado, no final de 2004, a seres testemunha dessa alegria.

17:21

domingo, maio 9

questões sem importância 

onde é que errei, princesa? por que avenidas me perdi sem saber o que fazer? em que ilusões bebi este desalento? porque é que a vida sem ti custa tanto?

22:38

sexta-feira, maio 7

na companhia de djavan 

a noite está quase a passar. porque estás tão longe?

"Oceano

Assim que o dia amanheceu
Lá no mar alto da paixão
Dava prá ver o tempo ruir
Cadê você, que solidão
Esquecerá de mim
Enfim, de tudo que há na terra
Não há nada em lugar nenhum
Que vá crescer sem você chegar
Longe de ti tudo parou
Ninguém sabe o que eu sofri

Amar é um deserto e seus temores
Vida que vai na sela dessas dores
Não sabe voltar, me dá teu calor
Vem me fazer feliz porque eu te amo
Você deságua em mim e eu oceano
Esqueço que amar é quase uma dor

Só sei viver se for por você"

23:24

porque estou aqui 

é da tua voz que eu preciso para perceber como ainda vives em mim. e mesmo longe só tu me poderias deixar dez minutos a pensar o que faço aqui. para depois respirar fundo. e não sair do mesmo sítio.

15:42

não me deixes adormecer 



a música do múm são pequenas e frágeis festas nas faces dos homens crescidos. são sinos que nos embalam. uma voz delicada que nos sopra ao ouvido: dorme...
é por isso que, mesmo depois da vida nos acolher e nos dizer palavras estranhas, continuamos a sonhar. como se ainda fôssemos crianças que vêem no escuro os monstros que não existem.
e apetece pular da cama. correr muito, muito até ao mar. onde apenas os faróis nos guiam para que a cidade não nos engula.

bons sonhos, dorme feliz...

01:00

quarta-feira, maio 5

retratos da bahia III - adilton 

quantos anos você tem? dezoito. ah, seu mentiroso, diz quantos anos você tem. dezoito. (adilton sorri com os seus dentes esquisitos, baixinho e gordinho, com um sorriso delicioso. adilton não pede, ele é guia turístico) vocês dão o que quiserem no final. quanto tempo demora uma volta no pelourinho? uns quarenta minutos. se vocês pararem para fazer compras ou visitar museus demora mais. mas eu espero por vocês. onde podemos apanhar um táxi? aqui mesmo (na entrada superior do elevador lacerda, de fronte para a baía de todos os santos que banha a terra da alegria, das 365 igrejas) mas negocia primeiro. eu fico por aqui. adeus adilton. (mais à noite no largo do pelourinho, adilton vem acompanhando um casal de turistas e passado pouco tempo já está sentado do nosso lado) fiquei esperando por vocês... não, não pode. nós não prometemos nada... (adilton sorri sempre, está cansado. fala um português correcto e sabe tudo de salvador. sabe bem quem nós somos, de que país vimos) vocês gostam de reggae? sim. mas não entra nesse bar não que eles colocam droga na bebida para você ficar doido. (adilton ainda oferece um mapa e mais duas ou três doses de simpatia e doçura. senti-me protegido por aquele corpo pouco desenvolvido. pelos seus olhos grandes. pela alegria de amar a bahia e de não ter nada, mas dar tudo) até terça, adilton. p'rá terça da bênção. adeus. bom jantar no boi preto. vocês são portugueses, podem pagar. adeus. (sorri por último, adeus adilton)

00:49

porque sorrimos 



quando a vida não sorri?

00:46

domingo, maio 2

retratos da bahia II - nilton fernandes 

você toca elis regina? claro, claro. (com a guitarra, sentado num banco alto à porta do restaurante "encontro dos artistas") música simples vocês sabem, eu gosto assim de viajar. escutar os pedidos das pessoas e tocar o que eu sei. prefiro isso a tocar só o que eu gosto. gravei há pouco meu primeiro álbum, se chama "simples", como a música que toco. (ébrio, outra pessoa se senta e pede) toca algo do djavan. um samba daqueles mais recentes. mas só se quiser. claro, toco já. (paulo mata, pianista de jazz, paulista, já tocou no hot clube de lisboa. falamos de lisboa, da fraude que foi e é filipão, do seu preconceito em conhecer lisboa e a da sua paixão depois de ver o seu amanhecer) (nilton não pára de tocar. pede uma cola que fica esquentando) você sabe, se agora bebesse a cola fria era um abraço na goela. (nilton toca, toca, toca, até as lágrimas quase se derramarem nas pedra irregulares daquela rua do pelô, numa noite quente da bahia)

22:16

sábado, maio 1

retratos da bahia I - márcio  

você anda na escola? ando. em que ano? oi... em que classe? ah, na segunda. meu pai foi morto em s. paulo e eu tenho de ajudar minha mãe e meus dois irmãos. (márcio tem uma carapinha imponente, meio queimada pelo sol e uma caixa pesada de madeira com o seu material de engraxador) quanto você leva por cada trabalho? depende... hoje só fiz dois reais porque estava chovendo. (márcio retira as notas amachucadas do bolso sem nunca pedir nada. simplesmente sorri. sentou-se também um pouco para descansar) você gosta de andar na escola? gosto. ouve uma coisa: não troca nunca os livros pela caixa de madeira. é só para ajudar minha mãe. quando você se vai deitar? quando tiver dinheiro para o café da manhã. você entra a que horas na escola? às oito, até às onze. e depois? vou trabalhar para o pelô engraxar sapato. estuda muito márcio.

17:10