ao longo da avenida

"O tempo das suaves raparigas / é junto ao mar ao longo da avenida" - Ruy Belo

terça-feira, março 30

sobre o novo livro de saramago 

sei que isto não se faz. falar de uma coisa sem a conhecermos. mas, por acaso, este é daqueles livros de que por tanto se falar me parece já o ter lido sem o realmente ter feito.
o intróito serve apenas para dizer que também hoje me converto a uma certa blogosfera cujo labor se centra na própria blogosfera. pois, vou falar de outro blog.
Através do tiago conheci um interessante blog do qual retiro estas sábias palavras (entre outras que também aconselho), que, amavelmente, faço minhas:

"Nem tudo o sara é mágico

Ouvir Saramago a dizer baboseiras em directo, dando aquele ar de que pensa coisas que mais ninguém alcança, e continuar a gostar dele como escritor, reforça a ideia de que a literatura ainda é um luxo e que o pensamento pode ser apenas uma solução de recurso da pelintragem.
Lembro-me sempre da frase de Fernando Pessoa (R.R.) que ele recolhe no início do “Ano na Morte de Ricardo Reis” : “Sábio é o que se contenta com o espectáculo do mundo”.
E fica-me agora esta dúvida de natureza estatística: haverá mais aforismos para “sábio” ou para “palerma”?
Todas as palavras podem ter a sua magia. Mas nem todas curam os males do mundo.

# posted by antonio @ 00:11"

00:28

domingo, março 28

primeiro verso 

era uma qualquer tarde

16:18

testemunhas da alegria 

16:16

sexta-feira, março 26

dizes-me adeus e eu não sei que dizer 



jon longhurst

00:33

quinta-feira, março 25

obviamente, demito-o 

manuel joão vieira, candidato a candidato a presidente da república, na sic notícias, falando de durão barroso. por entre "é preciso dar outra realidade aos portugueses", "é preciso fazer de cada português um artista" e uma garrafa de teor alcoólico.

"eu luto sempre do outro lado da luta..."

00:47

na oração, com cânticos de taizé 

"todos os caminhos de deus são de amor"

00:26

quarta-feira, março 24

pergunta-me outra vez, não percebi 



layfon ching

00:11

à espera de deus 



phyllis redman

00:08

domingo, março 21

silêncio 

queria dizer-te apenas silêncio. com palavras em forma de olhares. e gestos no lugar último do texto. sem pontos finais nem vírgulas. apenas um imenso espaço em branco.

23:46

quinta-feira, março 18

uma pergunta estúpida 



queres vir comigo?

00:48

terça-feira, março 16

mudança 

respiro o ar quente. o inverno vai lentamente permitindo que a avenida sorria. as crianças rompem o silêncio. as flores enganam a noite. nascem sem querer no lado obscuro dos dias.

22:57

lady 

danço. pela noite fora. como se tudo durasse apenas um instante. e a vida se resumisse a duas ou três verdades que não me apetece conhecer.

22:54

segunda-feira, março 15

primeiro dia 

hoje é o primeiro dia da primavera. ouço claramente os pássaros e os raios de sol a derramar vida na terra. mas não tenho vontade de partir. de ir em busca da água. ou da vida.

10:12

sexta-feira, março 12

o cordeiro de deus 

quando entrei na sala havia uma alegria e uma agitação de quem está prestes a concluir uma ansiosa espera. havia freiras, seminaristas, membros da opus dei (não me peçam para explicar como o soube), grupos de amigos, famílias. parecia um bar ou uma sala de convívio. o filme começou e o silêncio impôs-se até às primeiras e absurdas cenas em que as pessoas riram. a partir da tortura de jesus pelos soldados romanos uma mulher começou a chorar compulsivamente até ao final, sendo a excepção a um silêncio demasiado pesado. constrangedor. não acho que o filme seja mais violento do que outras coisas a que hoje temos acesso. acho-o sim profundamente chocante. uma surpresa em forma de choque. no fundo, uma história que todos sabem de cor mas que nunca viram em tão estilizado realismo. e a questão é essa. a paixão de cristo não é mais do que um filme que me mostra o que eu nunca sequer podia ter imaginado acerca do sofrimento humano.
em termos construtivos, há um profundo fosso entre as personagens centrais e as manobras de diversão que gibson enxerta na narrativa e uma péssima realização no que toca à transição entre o presente e os momentos de flashback. não há qualquer espécie de apelo ou sugestão anti-semita. jesus tem um nariz perfeitamente judaico. bolas, ele era judeu! aliás, quem vir o filme sabe que se existir um contraponto a jesus não são os judeus ou os romanos mas outra coisa que gibson sugere.

sustive a respiração demasiadas vezes. pensei o que estava ali a fazer, lembrando-me do que hoje tinha ouvido nas notícias. no dia do massacre de madrid assisti a uma encenação de outro massacre. de um cordeiro que diz a certa altura a sua mãe "eu renovo todas as coisas", carregando o peso de um mundo injusto e cruel. e lembrei-me infinitamente pela noite dentro das palavras de ruy belo:

"a primeira infância passou mas agora ou logo
deus renova todas as coisas
e um dia haverá barcos e seremos livres"

um dia também serei livre. e não morrerão inocentes. nunca mais.

17:40

quarta-feira, março 10

amanhã vou ver a paixão de cristo 

hoje ouço na sic notícias a representante da comunidade israelita de lisboa escandalizada com o facto das feições dos actores serem claramente judaicas (nariz afilado, etc) excepto jesus. mais. a senhora receia sobretudo o impacto que o filme possa ter nas comunidades islâmicas da europa ocidental (?!?!). eu que nunca senti qualquer espécie de anti-semitismo começo a vislumbrar a razão porque existem ideias estruturalmente recalcadas que não podem deixar de o ser com pessoas responsáveis que não sabem o que dizem.

mas que se sentem perseguidas. e disso lavo as minhas mãos. não há povos nem pessoas deicidas. deus é aquilo que é.

23:57

porquê? 

23:31

pedido 

peço-te que nunca me traias. que me defendas sempre da noite. é demasiado?

23:18

monólogo 

achas que posso ver um pouco a vida a passar enquanto dormes? escolho o silêncio ou o rumor?

10:54

terça-feira, março 9

distância 

sou um mau amigo, eu sei. tenho vergonha de admitir que sinto a vossa falta. daí o meu silêncio. demasiado constante. recorrente. embaraçoso.

11:02

à margem da história 6 

mesmo que eu lesse todos os livros de história, nada saberia de história sem ouvir os mestres.

não por uma questão de vassalagem. falo apenas de humildade.

11:00

à memória de ruy belo 

"Provavelmente já te encontrarás à vontade
entre os anjos e, com esse sorriso onde a infância
tomava sempre o comboio para as férias grandes,
já terás feito amigos, sem saudades dos dias
onde passaste quase anónimo e leve
como o vento da praia e a rapariga de Cambridge,
que não deu por ti, ou se deu era de Vila do Conde.
A morte como a sede sempre te foi próxima,
sempre a vi a teu lado, em cada encontro nosso
ela ali estava, um pouco distraída, é certo,
mas estava, como estava o mar e a alegria
ou a chuva nos versos da tua juventude.
Só não esperava tão cedo vê-la assim, na quarta
página de um jornal trazido pelo vento,
nesse agosto de Caldelas, no calor do meio-dia,
jornal onde em primeira página também vinha
a promoção de um militar a general,
ou talvez dois, ou três, ou quatro, já não sei:
isto de militares custa a distingui-los,
feitos em forma como os galos de Barcelos,
igualmente bravos, igualmente inúteis,
passeando de cu melancólico pelas ruas
a saudade e a sífilis de um império,
e tão inimigos todos daquela festa
que em ti, em mim, e nas dunas principia.


Consola-me ao menos a ideia de te haverem
deixado em paz na morte; ninguém na assembleia
da república fingiu que te lera os versos,
ninguém, cheio de piedade por si próprio,
propôs funerais nacionais ou, a título póstumo,
te quis fazer visconde, cavaleiro, comendador,
qualquer coisa assim para estrumar os campos.
Eles não deram por ti, e a culpa é tua,
foste sempre discreto (até mesmo na morte),
não mandaste à merda o país, nem nenhum ministro,
não chateaste ninguém, nem sequer a tua lavadeira,
e foste a enterrar numa aldeia que não sei
onde fica, mas seja onde for será a tua.


Agrada-me que tudo assim fosse, e agora
que começaste a fazer corpo com a terra
a única evidência é crescer para o sol."



eugénio de andrade (1978)


00:37

domingo, março 7

quanto tempo temos ainda? 

23:23

poema 

uma amiga transcreve um poema que vale a pena ler.

23:17

despedida 

ouço neste momento a última hora de emissão da voxx. é tempo de despedida, portanto. tempo da publicidade, das playlists, dos mega-almoços, das rádios só com grandes músicas.

23:14

terça-feira, março 2

viagens 

a thelma foi a marrocos e eu gostei de ler a sua pequena reportagem.

00:29

um dia 



a tua voz silenciará o vento.

00:21

segunda-feira, março 1

à margem da história 5 

o senhor dos anéis ganhou 11 óscares. a terra média não é histórica porque não existiu? onde há imaginação começa a história. nem que seja pela imagem da idade média que tolkien deixa transparecer na sua prosa.

pensar o passado também é imaginar.

23:55

à margem da história 4 

ouço insistentemente a realidade do dramático desemprego nos licenciados em história. só espero que o mesmo sistema que não torna a história um produto científico rentável não venha um dia a ser acusado de contribuir para os imensos esquecimentos que são incapazes de fazer da memória um pilar do futuro.

uma sociedade sem memória é uma sociedade morta.

23:47

o estado a que isto chegou em palavras-chave 

avelino ferreira torres. marco de canaveses. futebol. simplesmente. surreal.

23:44

pedagogia 

nas novelas da tvi fala-se de biologia, gravidez adolescente, sida, homossexualidade, cobrança fiscal, drogas e álcool. é triste sermos um país onde uma televisão fala (mal ou bem, não estou a julgar) de mais assuntos importantes ao serão do que o estado o dia inteiro. outro paradigma da modernidade? são aqueles que viram nas obras de eça um retrato do seu tempo que deviam pôr os olhos nas novelas. pelo menos para se perceber que mensagem eles andam a passar.

fechar os olhos nunca foi o melhor caminho. mesmo quando não se tem quaisquer pretensões. como a avenida.

23:35

somos irremediavelmente sociais 

numa das novelas da tvi, xico zé foi traído no dia do próprio casamento por lili, sua mulher. xico-zé, passada a dor, quer perdoar a arrependida lili. mas a sociedade não perdoa e xico zé hesita no seu amor ainda presente. não percam as cenas dos próximos capítulos.

a ausência do perdão é dar lugar às certezas. às pedras que não mudam.

23:31